24/04/2011

Nutricionista: profissional cada vez mais versátil

Para se falar do cenário atual da profissão é importante fazer o resgate de algumas ações do passado, quando teve início a emergência da profissão. O processo de formação do nutricionista no Brasil foi idealizado pela primeira geração de médicos nutrólogos, no final da década de 1930, início da década de 1940, quando surgiram os primeiros cursos no país. O primeiro curso para formação de nutricionistas foi criado em 1939, no Instituto de Higiene de São Paulo, atual Curso de Graduação em Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

 
A luta pelo reconhecimento do curso de nutricionista como de nível superior teve seu início por volta de 1952, concretizado após cerca de dez anos, em 1962, quando o então Conselho Federal de Educação (CFE) reconheceu os Cursos de Nutricionistas como de nível superior, estabelecendo o primeiro currículo mínimo e fixando a duração de três anos para a formação de nutricionistas, em nível nacional.
 
Já a luta pela regulamentação da profissão ocorreu em 24 de abril de 1967, quando foi sancionada a primeira Lei (nº 5.276) que dispunha sobre a profissão, legislação que vigorou até 1991, quando foi revogada por uma nova legislação (Lei 8234/91). Estamos, portanto, este ano comemorando 40 anos de regulamentação da profissão, um fato extremamente importante do ponto de vista social.
 
Os avanços conquistados pela categoria ao longo dessas décadas de mobilização e luta em busca de legitimidade e identidade profissional são evidentes. Dentre essas conquistas pode-se destacar a sensível ampliação dos campos de atuação profissional, gerando um crescente processo de especialização/divisão do objeto de trabalho/estudo do nutricionista e, conseqüentemente, de uma melhor qualificação das suas habilidades e competências técnico-científicas.
 
Hoje, vive-se um momento em que houve grande expansão dos cursos de Nutrição no País, principalmente no final do século 20, mais especificamente na década de 90, e início do século XXI, em especial no Estado de São Paulo, o que reflete em um considerável aumento de profissionais no mercado de trabalho, gerando uma diversificação das áreas de atuação do Nutricionista, o que gradativamente irá contribuir para um maior reconhecimento da profissão frente a toda a população, já que alimentação correta e balanceada é fator preponderante para a promoção e/ou recuperação da saúde, visando qualidade de vida.
 
Como áreas tradicionais de atuação do nutricionista, até alguns anos atrás tínhamos:
 
  •  ALIMENTAÇÃO COLETIVA, no planejamento, organização, direção e supervisão dos Serviços de Alimentação,tanto auto-gestão como aqueles que iniciaram a terceirização;
  •  NUTRIÇÃO CLÍNICA, na assistência dietoterápica hospitalar, ambulatorial e em consultórios de Nutrição;
  •  SAÚDE COLETIVA, na atenção primária em saúde, dando assistência nutricional individual e para coletividades;
  •  ENSINO, na docência de disciplinas profissionais, supervisão de estágios e na coordenação dos cursos de Graduação em Nutrição.
 
Porém, no contraponto dessa tradicional realidade de atuação profissional, encontramos uma população, muitas vezes estimulada para o consumo de produtos supérfluos e, muitas vezes com valores nutricionais duvidosos. Mas mesmo assim, essa população está mais consciente e preocupada com a sua saúde e com a alimentação, visando longevidade com qualidade de vida. Isso induz o nutricionista hoje a dar um novo enfoque à sua atuação, mesmo em áreas tidas como tradicionais. Seria como assumir a importância de uma “oxigenação” em seu cotidiano profissional.
 
Tomando por base as grandes áreas previstas em Resoluções CFN, existem várias possibilidades de se ampliar a atuação do nutricionista nessas já tradicionais áreas, além de outros nichos de mercado mais recentes, considerando:
 
ALIMENTAÇÃO COLETIVA: valorização da qualidade de vida, por meio de ações enfatizando a Educação Alimentar junto às coletividades atendidas; projetos de retomada de bons hábitos alimentares, mesmo com a popularização dos restaurantes self-service/por quilo e das redes de “fast food”; atuação em restaurantes comerciais, inclusive nos diferenciados (alta gastronomia) e na rede hoteleira, com enfoque reforçado no controle higiênico-sanitário; atuação no segmento de panificação, já que hoje as padarias desenvolvem atividades durante até 24 horas, com serviços que mesclam o papel tradicional (padaria/confeitaria) com o de restaurante comercial, oferecendo ao público refeições completas durante todo o dia; atividades de maior cobertura da alimentação escolar oferecida aos alunos da rede pública, com a valorização contínua do PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar, além de estudos dos perfis epidemiológicos das populações atendidas pelo Programa para as devidas intervenções nutricionais;
 
NUTRIÇÃO CLÍNICA: valorização do trabalho em equipes multidisciplinares, inclusive nas atividades de atendimento domiciliar (Home Care); atuação em Grupos Especializados de atenção clínica, como o que ocorre em Terapia Nutricional (Enteral e Parenteral), Distúrbios Alimentares, Cardiologia, Diabetes, entre outros; assunção pelo nutricionista da prescrição dietética no seu cotidiano, como lhe confere a Lei 8234/91, mesmo que seja feita em parte do público atendido (priorizar por níveis de atendimento); assunção, cada vez maior, das atividades desenvolvidas nos Bancos de Leite Humano (BLH); maior atuação nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI); ampliação da atuação em consultórios, com extensão, muitas vezes, até o domicílio dos pacientes, com atenção à família e colaboradores (empregadas/cozinheiras), na orientação da lista de compras, de cardápios equilibrados e formas adequadas de preparo das refeições (atuação popularmente denominada de “personal diet”);
 
SAÚDE COLETIVA: valorização de ações preventivas junto às comunidades, no contexto das políticas públicas de saúde e programas institucionais, embora ainda estejamos aquém na atuação nessa área, já que em muitos municípios do país há, ainda, um número insignificante de nutricionistas atuando nas Unidades Básicas de Saúde e nas equipes do Programa Saúde da Família (PSF), sendo esta área um grande desafio para se desbravar; ações diretas frente às patologias de 1º e 3º mundos em expansão no Brasil (aumento da obesidade, inclusive infantil, ao lado da já antiga desnutrição protéico-calórica); atuação efetiva junto à população de 3ª idade, que está aumentando no país e que, consequentemente, exige atenção focada, principalmente, nas doenças crônico-degenerativas; atuação em projetos sociais assumidos por comunidades/entidades ou por Organizações do Terceiro Setor (não governamentais); atuação ampliada em vigilância em saúde, com ênfase na área de vigilância sanitária;
 
NUTRIÇÃO EM ESPORTES: área que tem sido mais desenvolvida nos últimos anos, com o nutricionista atuando em academias e clubes, dando suporte a várias modalidades esportivas (individual, equipes e atletas), com acompanhamento dos atletas “in loco” e em consultórios, muitas vezes fazendo monitoramento de todas as etapas (pré, durante e pós atividades esportivas);
 
ENSINO: incentivo ao formando para o contínuo aprimoramento profissional, após graduação, com foco na pós-graduação (especializações, mestrado, doutorado), propiciando a valorização do conhecimento científico e do conseqüente aumento do acervo de publicações técnicas para a categoria.
 
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS: atuação que tem se expandido nas últimas décadas, com o nutricionista atuando em equipes multidisciplinares, trabalhando desde o desenvolvimento de produtos, até a elaboração de fichas técnicas, representação técnica, até o marketing institucional dos produtos.
 
Muitas são, portanto, as atividades que o nutricionista pode desenvolver na sociedade, mas ele nunca deve esquecer que, em qualquer área objeto do seu trabalho, ele é, efetivamente, um EDUCADOR DA CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO, sejam ações coletivas ou individuais.
 
E, para melhor desempenhar as suas funções, independente da área de atuação escolhida, o nutricionista deve agregar ao seu conhecimento científico outros conhecimentos práticos, que vão contribuir para maior otimização do seu tempo e trabalho, como o estudos de línguas e informática, além de características que deve desenvolver para o seu sucesso profissional, como: ter disposição para aprender sempre, ter capacidade para liderar pessoas e para trabalhar em equipes, ser criativo e dinâmico nas idéias e ações. Tudo isso, porém, sempre pautado na ética profissional e no respeito ao cliente dos nossos serviços, o consumidor.
 
 
Vera Lúcia Barreto Belo
[Matéria (editada) publicada na Revista Nutrição, edição 27 - abril-agosto/2007]

Um comentário:

  1. oi cris o seu blog é muito legal vejo ele todo dia e faço muita propaganda do seu blog no meu.



    beijos

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